A arte da difamação e a espiral do silêncio
Aprenda a diferenciar o que realmente é crítica de um assassinato de reputação
Hoje eu fiz essa postagem no Twitter explicando uma técnica que já virou arma corriqueira dos políticos, o assassinato de reputação de jornalistas. Obviamente é algo ancestral, mas fica muito mais eficiente na era das redes sociais porque estamos em contato todo o tempo.
A primeira coisa a reparar é que os alvos da difamação são sempre os mesmos para grupos políticos radicais que são adversários. Se são adversários, por que elegem as mesmas pessoas para perseguir de forma implacável? Porque essas pessoas são capazes de arrefecer a polarização, fundamental para que a violência do radical seja aceita pela sociedade.
Não fosse a polarização, a maioria das pessoas não aceitaria a forma desleal, bélica e de baixo nível como se comportam várias pessoas. Acabam aceitando por imaginar ser a única forma de combater um mal maior. É um erro enorme. Não vai combater nada porque radical infla radical sempre, mesmo que sejam de sinal trocado.
Compartilho só com vocês um trecho do meu livro Cancelando o Cancelamento. Lá, eu explico de maneira bem simples quais são as técnicas dos radicais para isolar pessoas.
Quando você começar a ler, vai reconhecer imediatamente no seu dia a dia das redes e dos grupos esse tipo de operação. Também vai ver que são sempre as mesmas pessoas que comandam, em grupo. A maioria não gosta de participar, mas acaba forçada por medo de ser o próximo alvo ou simplesmente se cala.
Este é um trecho do décimo capítulo de CANCELANDO O CANCELAMENTO: “A era de ouro do zen-fascismo”.
Com as redes sociais, no entanto, há um passo anterior, a desumanização. Do bem, claro. Olavo de Carvalho costumava ensinar que não se discute com inimigo político porque você não o respeita como ser humano. A ordem era partir para a ridicularização e xingamentos. Se necessário, violência física.
Quem faz isso seguindo Olavo é mau, mas se você fizer isso pela democracia ou contra a opressão, será absolvido pelos zen fascistas. Como vimos no capítulo do manual escrito por Andrew Anglin, a desumanização consiste em preparar o grupo para rir da morte de alguém eleito como inimigo.
Os rituais e liturgias são muito poderosos para moldar a alma humana. E nós podemos ver algumas atitudes que se repetem e levam à desumanização. A primeira coisa é negar a individualidade, o direito ao nome ou à biografia.
Uma técnica muito frequente é criar apelidinhos pejorativos, preferencialmente com conotação escatológica, sexual ou de diminuição intelectual. Também podem ser criados apelidos que estigmatizem a pessoa de forma a torná-la um objeto ridículo, não um indivíduo.
O direito à biografia é surrupiado com medidas fáceis que geram muito engajamento. Pouco importará o que a pessoa realmente fez, suas conquistas, quem ajudou. Aliás, ela deixará de ser uma pessoa. Você compartilha uma foto dela que “comprove” algo. Por exemplo, se tirou foto ao lado de alguém é satanista, fascista, pedófilo, etc. Funciona muito bem porque as pessoas também mandarão as fotos em grupos privados.
Também é possível tirar um print de alguma postagem da pessoa e colocar uma explicação capsciosa que leve os demais a entenderem que ela é absolutamente perversa e não deve ser tratada como ser humano.
Quando isso começa a circular nos grupos zen fascistas, aquela pessoa deixa de existir para a humanidade. Ela é uma mistura de monstro com dejeto, algo que precisa ser ridicularizado, execrado e expulso da sociedade.
Qualquer história execrável que se inventar sobre a pessoa será altamente crível e compartilhada por toda a lacrosfera a partir do momento em que a desumanização se instalar. Ninguém defenderá a pessoa contra a multidão para não ser trucidado junto. Quem não atacar junto será visto como defensor. Mas será tudo pelo bem, tudo devido à defesa das grandes virtudes e feito com superioridade moral.
Reconhece alguma coisa que já viu por aí? Comente comigo!!!
Conheço uma economista que tem sido vítima de linchamento virtual. Ela é muito respeitada na academia. Mais no exterior do que no Brasil, apesar de brasileira. Tenho acompanhado de perto. Triste.
É difícil não se enxergar nessa situação. Como não ter um político (s), um ministro do STF, um jornalista (s) chapa branca, youtubers ... É difícil ficar inerte.