Com quem você anda se metendo?
Nas redes sociais, pouco importa o que você fala, importa com quem você INTERAGE e em que momento faz isso.
Suponha que você não entenda nada de tecnologia, algoritmo, machine learning, inteligência artificial e nem queira entender, quer só viver em paz. Pode parecer que estamos à beira do caos. Proponho a você um raciocínio: “quanto mais a tecnologia avança, mais precisamos entender de gente”.
COLABORAÇÃO é a palavra que pauta uma navegação tranquila no mundo da hiperinformação. Isso muda a forma como competimos uns com os outros. Também revoluciona o relacionamento entre diferentes gerações. Em rede, crescemos com colaboração, para o bem ou para o mal.
Muito provavelmente você já ouviu falar no efeito manada e no comportamento de multidões. A mais famosa história antiga em que isso acontece é quando o povo decide liberar Barrabás e crucificar Jesus. Então não mudou nada? Mudou muito com os algoritmos.
Algoritmos não são um grande mistério e você não precisa decifrá-los nem saber ler um algoritmo para calcular os efeitos dele nas relações humanas. Empresas tomam decisões empresariais, são atos essencialmente humanos. Na Big Techs, essas decisões também são executadas pelas máquinas. Como você dá uma ordem para a inteligência artificial? Por meio de uma sentença matemática que chama-se algoritmo.
A maravilha da tecnologia é que ela nos dá exatamente o que pedimos. Essa também é a desgraça da tecnologia. Suponha que a decisão empresarial seja distribuir o máximo possível postagens e perfis que geram muito engajamento. Se essa decisão não observar que é para descartar ataques pessoais, teorias conspiratórias, assassinatos de reputação, extremismo e ameaças, isso também terá distribuição privilegiada.
É o que acontece hoje. Postagens em que se ataca o grupo oposto (politico, religioso ou qualquer outro) ou um indivíduo do grupo oposto têm 67% mais chances de viralizar do que qualquer outra postagem. E inclua no qualquer outra até mulher pelada. Nelson Rodrigues tem uma frase ótima: “no Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua.”
Eu não imagino um boleiro de respeito vaiando mulher nua, mas não duvido que o comportamento de manada da vaia chegue ao ponto de vencer os instintos mais primitivos. Então continuamos iguais, certo? Errado. As plataformas das redes sociais incentivam o comportamento de manada. Pior ainda, na dinâmica das redes as pessoas nem percebem quando entraram nisso. A PARTIR DE AGORA VOCÊ VAI PERCEBER.
Você já teve a impressão de que seguia um perfil porque sempre vê as postagens dele, mas depois descobriu que não seguia?
Sabe como isso acontece? Alguém que você segue está interagindo com este perfil, então coisas que ele posta aparecem para você como se você também fosse seguidor.
O que é INTERAGIR? Curtir, compartilhar, responder, repostar. Mas também xingar, postar o perfil para pedir que todos denunciem aquele absurdo ou fazer posts do tipo “olha que coisa mais sem noção”, compartilhando a postagem ou um print da postagem. Tanto faz o que você diz. Interagir é apoiar. Quem fez as regras não está nem aí para você, quer interação, retenção das pessoas na plataforma. (Valeu, Julia Kurtz pela dica!!!)
Não fique com medo das redes. Elas vieram para ficar e têm uma lógica muito prática: quem não usa é usado. Você pode aprender a usar os algoritmos a seu favor. No curso Cidadania Digital tem uma aula que ensina passo a passo como montar uma timeline que te traga coisas interessantes, boas relações, discussões legais e até avanço profissional.
Os mais jovens, nativos digitais, já entenderam que colaboração é tudo. Os mais velhos, que entendem de gente e têm experiência de vida, precisam entender isso. É por meio da união desses dois talentos que poderemos entender os tipos de colaboração que são ruins para nós como indivíduos e como sociedade. Também assim poderemos ter ideias dos tipos de colaboração que trazem evolução e abundância.
Esta semana, tivemos um evento trágico. Eu, que sou mãe, fiquei muito impactada. O filho da estrela do forró Walkyria Santos fez um post no Tik Tok. Acabou virando alvo de um ataque em enxame, que poderia ter sido interrompido automaticamente pela plataforma, mas não há decisão empresarial que tenha colocado isso no algoritmo, a ordem que as máquinas recebem. Lucas, de 16 anos, cometeu suicídio. Já tinha problemas. A plataforma também detecta isso.
Neste vídeo, eu explico em mais detalhes o que vou explicar aqui na newsletter. O que são os ataques em enxame e, mais importante, COMO VOCÊ PERCEBE SE ESTÁ PARTICIPANDO DE UM ATAQUE EM ENXAME SEM NEM IMAGINAR ISSO. É o Maracanã do Nelson Rodrigues a um toque de distância. Saber como ele funciona vai fazer com que você não seja mais manipulado.
Curtidas, likes, compartilhamentos e mais seguidores acabam propiciando disparos de dopamina no cérebro. Se isso é conseguido mais facilmente atacando alguém de um grupo oposto, a tentação é gigantesca. E há também as ações organizadas com objetivos políticos e econômicos. Você começará a ver muitas delas porque ano que vem tem eleições e diversos grupos querem fortalecer perfis que possam participar do debate político.
Outro dia, vi alguém reclamar - com razão, aliás - que tinha sido confrontada por amigos porque compartilhou uma postagem de alguém enrolado num esquema de desinformação. Ela não sabia mesmo, nem imaginava. Viu um meme, achou engraçadíssimo e repostou. Nós agimos assim, é nosso natural de mente analógica prestar atenção no conteúdo. Ninguém é obrigado a conhecer o mundo todo, certo? Certo, mas você precisa conhecer as pessoas com quem anda.
Suponha que um assassino, traficante ou corrupto tenha dito algo muito interessante ou engraçado e você está morrendo de vontade de falar disso com alguém. Você vai falar com as pessoas do seu círculo de amizades ou se jogar na galera do assassino, traficante ou corrupto? É óbvia a decisão. Ocorre que, nas redes sociais, isso vira uma zona cinzenta porque não temos rituais. Seres humanos organizam a vida por rituais.
Esqueça a internet. Suponha que você viu na televisão alguém muito condenável falar uma coisa que você está louco para contar. Muito provavelmente você mandará uma mensagem para um amigo, colega ou familiar e vocês terão um momento divertidíssimo comentando aquilo entre vocês. Mas você não vai atrás daquela pessoa condenável para virar amigo dela e apresentá-la aos seus amigos.
O que seria este ritual na internet? Você vê algo de alguém condenável e quer contar. Tira um print e manda para um amigo, colega ou familiar e vocês falam sobre isso. Caso você opte por responder xingando, repostar dizendo “vejam a que ponto chegamos” ou até tirar um print e postar publicamente, qual é o ritual? É ir atrás da pessoa condenável para fazer parte da turma dela e apresentá-la à sua.
Os alunos do curso Cidadania Digital dominam essa técnica de elaborar rituais na vida real para medir o que fazem na internet. Mas eu também explico isso em detalhes no meu e-book Tratamento de Choque. Ele é vendido no Kindle por R$ 10. Mas eu decidi fazer uma versão GRATUITA para que todos possam ter acesso ao conteúdo, mesmo quem não tem Kindle (a única forma que eu achei de publicar). Basta você clicar NESTE LINK para baixar e compartilhar a versão grátis.
Dicas para separar conteúdo de interação e ter mais liberdade e paz nas redes e na sua vida
Então não pode rir de mais nada? Tenho de fuçar até a vida do bisavô da pessoa para decidir se posso dar risada de uma zoeira? Já ouvi isso e compreendo. Novidades às vezes dão essa sensação de aprisionamento. Mas é claro que você pode rir de tudo e se divertir com tudo, o que é diferente de INTERAGIR com tudo.
Perfis trolls - os que vivem de espezinhar os outros, por sadismo ou por interesse - têm uma técnica excelente para conseguir espalhar seu raio de ação. Eles INTERAGEM com pessoas legais. Curtem seus posts, comentam, compartilham, marcam você em publicações, de forma sempre gentil. Quando estão promovendo ataques em enxame, marcam você. E AÍ VOCÊ VIRA UM FANTOCHE DELES!!!
Esta semana, eu dei uma entrevista na TV Alesp falando especificamente do papel que ataques em enxame podem ter nas eleições. No vídeo, você também pode conferir a participação ativa da minha cachorra Estrela e do meu cachorro Pablo, muito eficientes em comunicação de guerrilha.
Também participei junto com meu advogado, André Fróes, do programa Alesp Cidadania, com a jornalista Melissa Araujo, explicando a diferença entre expor sua opinião e participar - de propósito ou sem querer - de um ataque em enxame. Está bem detalhado, inclusive para quem não domina o assunto.
Novos parâmetros: com quem você interage e que tipo de discurso a pessoa faz
Nós, que somos da geração que fez a transição digital (a minha é a última), tendemos a focar sempre no conteúdo, o que a pessoa está dizendo. Isso funciona quando o contexto do debate não pode ser manipulado - e todos os contextos agora são manipulados por algoritmos. Precisamos adquirir novas habilidades.
Não é para ter medo nem largar as redes sociais. Sou uma prova viva de que, se trazem muitos problemas, também nos trazem soluções incríveis. Temos de aprender a entender este contexto e ter as informações para agir da forma que desejamos e dar consequência àquilo que queremos ver tornar-se realidade.
Como você interage com alguém? Muito provavelmente lê o conteúdo do perfil ou da postagem e já se adianta. Vai lá dar um like, responder ou repostar, seja a favor ou contra. Também já fiz isso, é um erro enorme. Você precisa escolher com quem anda, ou seja, com quem interage. Interagir é só com quem você quer promover e apresentar ao seu círculo de amizades.
Se você quer rir de algo que alguém reprovável disse ou falar mal de algo que uma pessoa postou, a postagem pública é um tiro no pé. Significa, para as redes, que você endossa aquilo. Então outras postagens daqueles perfis começarão a aparecer para os seus contatos, como se eles estivessem seguindo o perfil.
E como eu tiro sarro de alguém ou falo mal dos outros? Tira um print e compartilha de forma privada, com alguém ou algum grupo. Você continua mantendo a sua liberdade de rir do que quiser sem propagar algo que você reprova.
Preste atenção também no tipo de discurso que a pessoa faz. Às vezes, o conteúdo do que a pessoa diz coincide com aquilo que você pensa. Mas isso não quer dizer que ela pensa como você ou está do seu lado. Verifique como aquela pessoa age no dia a dia, no cotidiano, com outros perfis. Avaliando esse comportamento é que você decide se deve apoiar ou não este tipo de ação.
Eu fiz este vídeo sobre urna eletrônica que te ensina, em menos de 10 minutos, a diferenciar teorias conspiratórias de questionamentos válidos MESMO SEM ENTENDER NADA DE URNA ELETRÔNICA. Pode ser a desgraça da hipercomunicação o conteúdo não ter valor maior que o contexto. Mas também pode ser a saída para você não ser enganado.
Pessoas ruins sempre existiram e sempre vão existir. Aqueles que atacam outros para benefício individual ou por puro sadismo sempre vão existir e sempre existiram. Ocorre que agora temos mais ferramentas não só para agir assim, também para escamotear estas ações.
Por outro lado, se você seguir as dicas que eu dei aqui, não permitirá que o usem para ações com as quais você não concorda:
Veja COM QUEM VOCÊ VAI INTERAGIR antes de curtir, compartilhar, comentar, xingar, ou postar “veja que absurdo”, replicando o que a pessoa postou.
Preste atenção no tipo de linguagem e argumentação que a pessoa usa. Trolss, ataques em enxame e teorias conspiratórias tendem a ter uma fixação na agressividade e na criação de dúvidas, com total incapacidade para um debate honesto e propostas construtivas.
Espero que esta newsletter tenha trazido informações positivas para você e te ajude a usar o melhor das redes!!!
>>>APROVEITE ATÉ SEGUNDA a promoção de Dia dos Pais do curso Cidadania Digital:
- participação em aulão FECHADO segunda às 19h30 (e acesso posterior ao conteúdo gravado)
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- sorteio de um livro autografado Tempestade Ideológica, da Michele Prado.
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Espero que esta newsletter ajude você. Me diga o que achou!!! Nos vemos semana que vem.