Os stalkers que se disfarçam de militantes
Cuidado para diferenciar o que é debate político do que é perseguição insidiosa contra alguém
Todo perverso encontra novas oportunidades de satisfazer seus desejos diante de novas oportunidades, como a tecnologia. Não é diferente com os stalkers.
Muita gente confunde um pouco essa palavra porque falamos em “stalkear” pessoas, principalmente quando temos interesse amoroso. Nesse contexto, quer dizer olhar as redes sociais e fotos antigas.
Tecnicamente, um stalker é algo bem diferente e mais pesado. É o perseguidor insidioso, que cisma com alguém e arruma qualquer desculpa para falar daquela pessoa, ir atrás da pessoa, tentar contato, tentar destruir.
Em 2019, eu fiz um longo artigo explicando detalhadamente o que são stalkers, os diversos tipos de personalidade envolvidos nisso e por que são considerados tão perigosos. Ainda não tínhamos uma lei sobre isso e agora temos. (Acesse o artigo por esse link aqui).
Um dos maiores juristas brasileiros, Damásio de Jesus, define como 6 os tipos diferentes de stalking: invasão da privacidade da vítima, repetição de atos, dano à integridade psicológica e emocional da vítima, alteração de seu modo de vida, restrição à sua liberdade de locomoção, lesão à sua reputação.
E é nesse último ponto que temos o perigo de que eu falo no título: a proliferação de stalkers fingindo ser militantes. Na polarização tóxica em que vivemos, personalidades perversas conseguem convencer os outros de que estão numa luta política e não perseguindo deliberadamente uma pessoa.
Preste atenção quando uma pessoa ou um grupo têm fixação em destruir a reputação de alguém. Geralmente a gente percebe isso nos grandes casos da política nacional. Passe a ver os menores, envolvendo pessoas da mesma cidade, da mesma profissão, da mesma religião.
Destruir a reputação geralmente não é visto como stalking, mas é instrumento dos stalkers para que minimizem as reclamações de suas vítimas, garantindo que ninguém impeça seus atos por não medir sua periculosidade ou por imaginar que a vítima fez por merecer.
Segundo o professor Damásio de Jesus, para conquistar aos poucos o controle sobre a vida da vítima o stalker pode lançar mão de estratégias adicionais de perseguição como chantagens, calúnias, difamações, espalhar boatos, enfim, tentar “criminalizar” o cotidiano da vítima perante as outras pessoas para diminuir suas chances de defesa.
Não se culpe se você até participou de algum ataque nas redes e agora, repensando, viu que não era um debate de ideias. Stalkers são muito talentosos para manipular as pessoas e garantir a realização de seus deleites perversos. Não é incomum que tenham aliados, que também têm prazer com a humilhação da vítima.
O importante mesmo é o que você vai fazer agora, que já sabe disso. E eu tenho certeza de que vai ter olho vivo com os stalkers que fingem ser militantes políticos.
Na correria e na dinâmica das redes, é muito fácil a gente ficar viciado na descarga de dopamina do enfrentamento de um inimigo. Às vezes, esse “inimigo” é o alvo de um stalker que se empenha em difamar a pessoa até que ela seja isolada para que possa ser mais facilmente destruída.
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